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O Bandido e a Galinha na Ponte do Entendimento

Em uma aldeia esquecida pelo tempo, situada entre rios serpeantes e colinas sonolentas, vivia um bandido de fama impressionante. Não era pela maldade que pesava em seu nome, mas pelas façanhas que eram contadas de taverna em taverna. Artur, assim o chamavam, usava chapéu preto largo, botas de couro lustrado e um bigode retorcido que dançava com seu sorriso maroto. Sua capa esvoaçante escondia truques tantos que parecia o interior de uma cartola de mágico.

Numa manhã onde o sol se levantava pachorrento entre as nuvens, Artur caminhava com sua mochila cheia de pequenos tesouros surrupiados. Atravessava uma ponte antiga, de madeira e cordas, que gemia ao peso de histórias e passos. O rio abaixo corria apressado, sussurrando canções de viagens e sonhos. Artur sempre escolhia a ponte para seus afazeres, pois era um caminho pouco frequentado e cercado de mistérios.

— Bons dias, ponte velha! — saudou ele. — Mais um dia juntos, mais uma aventura nos espera!

Nas tábuas da ponte, surgiu então uma galinha de plumagem avermelhada, com penas manchadas que desenhavam mapas de outras eras. Seus olhos, grãos de café brilhantes, fixavam-se em Artur, e seu porte era de quem sabe o que quer.

— Cocorocó! — disse a galinha, claramente indicando que não era uma mera habitante das granjas. — Eu sou Gertrudes, e estou em uma missão tão importante quanto suas travessuras.

Com um olhar de descrença e mãos nas cintas, Artur remexeu no bigode.

— E que missão, minha cara galinha, seria essa? — indagou, curioso pela conversa inusitada.

— Preciso chegar ao outro lado da ponte — explicou Gertrudes. — Há um escorregador mágico que, dizem, pode realizar o desejo de unir pessoas e animais numa colaboração jamais vista!

A expressão de chacota de Artur desfez-se em fascinação. Um escorregador que concedia desejos era algo pelo qual valia à pena se aventurar.

— E por que uma galinha precisa de ajuda? — perguntou.

— Porque esse escorregador, caro Artur, está escondido. E eu sou muito boa em botar ovos e cacarejar, mas para desvendar mistérios, precisarei de suas habilidades.

A ideia fez cócegas na mente de Artur. Ele sempre fora individualista; contudo, a perspectiva de um desafio novo e um artefato encantado acordou seu espírito de equipe adormecido.

— Muito bem, Gertrudes. Juntos buscaremos esse escorregador!

Então, selaram a aliança com um cumprimento; uma ave e um homem malandro, unidos por um objetivo comum.

Procuraram pistas, esquadrinharam cantos e bateram em tábuas à procura de segredos ocultos. Artur, com suas ferramentas de bandido, ensinou Gertrudes a escutar os sussurros das madeiras e a encontrar os segredos trancafiados na estrutura antiga.

— Aqui! — cacarejou Gertrudes, após algumas horas de busca. Suas garras alisaram um ponto específico do piso. Houve um estalo sonoro, uma virada de página no livro do tempo.

As tábuas cederam, erguendo-se suavemente e revelando uma passagem secreta. Era como se a própria ponte reconhecesse a parceria formada. Desceram por escadas de corda que levavam a uma plataforma baixa ao lado do rio.

No centro da plataforma, lá estava o escorregador que a lenda nomeava. Sua estrutura era composta por metal lustroso que capturava o brilho do sol e o refratava em mil cores. Tinha curvas graciosas e um final oculto na névoa que dançava sobre o rio.

— Agora, devemos descer juntos, Artur — disse Gertrudes. — Somente a união de esforços ativa a magia.

— Ao nosso sucesso! — exclamou Artur.

Com um quê de hesitação, pois em seu íntimo sabia que o verdadeiro tesouro estava naquela parceria inédita, Artur ajeitou-se ao lado da galinha. Seguravam-se, ele com um braço envolvente e ela com uma asa estendida, prontos para o escorregar pelo destino.

— Orgulho imenso me preenche neste momento, minha valente galinha — sussurrou o bandido.

— E eu, meu corajoso bandido, jamais imaginei ter tal honra — confessou a ave.

E escorregaram, pois de mãos dadas, ou melhor, de asa e braço. A velocidade era ímpar, o vento uivava aplausos, e a névoa dissipava-se ao calor de uma amizade verdadeira.

Quando os pés de Artur e as patas de Gertrudes tocaram a terra firme, o escorregador brilhou, estremeceu e desvaneceu em um suspiro de alegria cumprida. Olharam ao redor e entenderam que não precisavam de desejos concedidos por mágica; a cumplicidade entre eles e a ponte transfigurada num palco de conexões era o presente mais valioso.

No retorno à aldeia, Artur e Gertrudes foram vistos lado a lado, narrando as peripécias. As crianças riam, os adultos cochichavam maravilhados, e a ponte, testemunha de tantas viagens solitárias, vibrava agora como um lugar onde corações e almas encontravam pontes para atravessar juntos.

Daquele dia em diante, sempre que alguém perguntava a Artur sobre tesouros, ele apontava para Gertrudes e dizia com um sorriso mais largo do que seu bigode:

— O verdadeiro tesouro é a amizade e a força que vem quando unimos nossas diferenças em prol de um bem maior.

E assim, entre cores de fim de tarde e cacarejos de contentamento, tranças de histórias eram tecidas, e a ponte, antes solitária, tornou-se a ponte do entendimento, onde todos eram bem-vindos a aprender a lição da união.

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