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O Voo da Raposa Paciente

No coração pulsante de um aeroporto movimentadíssimo, onde aviões gigantescos deslizavam pelo azul do céu como enormes pássaros de metal e o zumbido constante anunciava aventuras e despedidas, vivia uma raposa astuta e de pêlo laranja reluzente chamada Rufina. Diferente de outras raposas que preferiam as florestas densas e os campos vastos, Rufina achava fascinante observar as idas e vindas das criaturas bípedes que chamavam aquele lugar de ‘terminal’.

Nossa heroína, que possuía uma curiosidade insaciável e olhos espertos que nada deixavam escapar, havia encontrado refúgio num cantinho escondido atrás de um dos balcões de check-in, onde a maioria dos humanos jamais percebia sua presença.

— Psst, Rufina! Você viu isso? — cochichou Sereno, um pombo-correio que havia se tornado o fiel confidente da raposa.

— O que é, meu veloz amigo? — respondeu Rufina, enquanto ajeitava com elegância seu pêlo farto.

— Ora, há uma lâmpada muito peculiar prestes a ser embarcada! Parece ter vindo dos confins das Arábias, ou de alguma terra encantada! — exclamou Sereno, apontando com a asa para um objeto brilhante e rebuscado que estava sendo manuseado com extremo cuidado.

Dentre as bagagens, destacava-se aquela lâmpada excepcional, ornada com um arabesco de outro mundo e uma pátina que sussurrava segredos de tempos imemoriais. Rufina imediatamente sentiu um impulso aventureiro, o tipo que fazia suas patinhas formigarem e sua mente se encher de interrogações.

— Oh, Sereno, eu preciso dar uma olhada mais de perto! — exclamou Rufina, começando a tramar um plano arrojado.

Assim que a noite caiu e os sons se acalmaram para um burburinho suave, Rufina esgueirou-se com a delicadeza de uma sombra entre as esteiras e malas, mantendo seus olhos fixados na lâmpada misteriosa. A raposa sabia que a paciência era sua maior aliada, e mesmo ardendo de curiosidade, aguardou o momento exato para aproximação.

Chegando perto, Rufina se impressionou com os detalhes daquela lâmpada. Era como se cada curva e espiral contassem histórias de eras que se entrelaçavam com o destino daqueles que a possuíssem. Como uma lufada de vento, a raposa ouviu sussurros de vozes antigas, mas foi paciente e não tocou na lâmpada.

— Rufina, cuidado! Isso me parece mágico — alertou Sereno, pousando ao seu lado. — Não é sábio mexer com o que não se conhece.

— Estou apenas admirando, Sereno. Sinto que essa lâmpada pode desvendar novos mundos para mim — murmurou Rufina, maravilhada.

Enquanto Rufina e Sereno contemplavam o objeto fascinante, foram interrompidos por passos apressados. Era Sílvio, o segurança do aeroporto, um homem de olhar bondoso e um bigode que parecia ter vida própria.

— Ora, ora, o que temos aqui? Uma raposa curiosa e um pombo intrometido? — disse Sílvio com um sorriso amigável, abaixando-se para ficar ao nível de Rufina. — Vocês sabem que este lugar é recheado de surpresas, não é mesmo?

— Sim, e foi exatamente isso que nos trouxe até aqui, Sílvio. Esta lâmpada é um enigma que não consigo decifrar — confessou Rufina, com olhos que brilhavam no reflexo do objeto encantado.

— Bem, diz a lenda que esta lâmpada é capaz de conceder desejos a quem souber esperar o momento certo para pedi-los — revelou Sílvio, compartilhando um segredo que os olhos da raposa absorveram com admiração e espanto.

— Des… desejos? — gaguejou Sereno, quase deixando cair uma pena de surpresa.

— Isso mesmo, meu leal pombo. Mas muitos já tentaram e falharam por serem impacientes — continuou Sílvio, lançando um olhar significativo para Rufina.

Aquelas palavras semearam em Rufina uma resposta sábia ao mistério da lâmpada. Ela entendeu que a verdadeira magia estava na habilidade de esperar com a certeza de que no momento certo todas as coisas revelariam seu propósito. A raposa, então, fez a escolha de não tocar na lâmpada e, ao invés disso, continuou a observar como uma guardiã silenciosa, testemunha das histórias e segredos que o aeroporto guardava.

Os dias passaram, e Rufina não deixava de pensar na lâmpada, mas mantinha-se paciente, desfrutando de cada descoberta que o aeroporto lhe oferecia. Ela via pessoas se reencontrando, partindo para longe, vivendo os seus altos e baixos, abraçando as alegrias e superando as tristezas. Rufina experienciava tudo isso a partir de sua toca secreta, aprendendo cada vez mais sobre o mundo e sobre si mesma.

Numa bela manhã, quando o sol dourado espalhava seus raios calorosos pelo aeroporto, um homem idoso se aproximou da área onde a lâmpada estava exposta antes de embarcar. O ancião acariciou a superfície da lâmpada com um sorriso repleto de sabedoria e, sem dizer uma palavra, fez um gesto amável na direção da raposa.

Foi então que algo mágico aconteceu. Uma suave bruma envolveu a lâmpada, e um ser etéreo surgiu, olhando diretamente para Rufina.

— Oh, raposa paciente — disse a criatura com uma voz que era como música. — Tua capacidade de esperar e tua sabedoria em observar renderam-te o maior dos tesouros: o conhecimento. E agora, o que desejas?

Rufina ficou sem palavras, olhando dentro dos olhos do ser mágico, e percebeu que seus verdadeiros desejos já haviam sido atendidos: ela tinha amigos, aventura e uma vida cheia de histórias para contar.

— Eu desejo poder continuar a ser parte deste lugar encantado, onde a cada dia posso aprender e crescer, vivendo aventuras junto aos que estimo — respondeu Rufina com humildade e alegria.

Com um sorriso, a criatura acenou, antes de se desvanecer novamente na bruma. E assim, enquanto aviões continuavam a decolar e pousar, Rufina viveu muitos dias felizes no aeroporto, sempre recordando que a arte de esperar tinha a sua própria recompensa, e que a magia de viver estava nas coisas simples que pacientemente observava e a que gentilmente pertencia.

E em cada amanhecer e anoitecer, entre as luzes do terminal que brilhavam como estrelas ao seu redor, Rufina, a raposa paciente, se tornou mais do que uma lenda, mais que uma guardiã das histórias: ela se tornou um símbolo vivo do tempo, aquele que tudo vê, tudo aprende e, no final, tudo recebe.

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