Voltar à lista
http://O%20Segredo%20do%20Moinho%20Encantado%20-%20Uma%20história%20de%20Koalia%20Stories

O Segredo do Moinho Encantado

Nos confins de um vale verdejante, onde os ribeiros cantarolam melodias adormecedoras e as flores parecem dançar ao sabor do vento, erguia-se um antigo moinho de água. Era uma construção de pedra cinzenta, adornada por musgo e envolta em mistério, coroada por uma roda d'água que cantarolava canções do tempo em seu incessante girar.

Vivia ali Dona Seraphina, uma avó de cabelos como linhas de prata, olhos tão azuis quanto o céu em dia claro e um sorriso que, mesmo em tempos atormentados, jamais murchava. Era ela conhecida por sua sabedoria ancestral e pelas histórias que tecia como quem entrelaça fios de lã numa tapeçaria magnífica.

Em uma manhã onde o orvalho brilhava como pequenas gemas sob o amanhecer, Dona Seraphina foi surpreendida por uma batida ritmada à porta de seu moinho. Ao abrir, deparou-se com um cavaleiro de armadura reluzente e capa esvoaçante.

— Bom dia, nobre senhora, a paz reine em seu lar! — saudou o cavaleiro, com uma voz que ecoava como o badalar de sinos distantes.

— Seja bem-vindo, bravo guerreiro — respondeu Dona Seraphina, com um brilho de curiosidade em seus olhos. — O que lhe traz ao meu humilde moinho nas primeiras luzes deste dia?

— Venho em busca de sabedoria e ajuda — disse o cavaleiro, desmontando de seu fiel corcel com elegância. — Fui encarregado de uma missão de grande importância e sinto que aqui reside a chave para o seu sucesso.

A avó, com um gesto gracioso de sua mão enrugada, mas ainda firme, convidou o cavaleiro para entrar. O interior do moinho era acolhedor, com paredes repletas de prateleiras que abrigavam jarros de temperos e livros encadernados com esmero. Uma fragrância adocicada de bolos e pães pairava no ar. O coração da casa era aquecido por uma lareira onde chamas crepitavam alegremente.

— Sente-se, nobre visitante — disse ela, indicando uma cadeira rústica diante de uma mesa de carvalho. — Conte-me sobre esta missão que pesa em seus ombros.

O cavaleiro pousou seu elmo sobre a mesa e revelou seu semblante jovem, marcado por cicatrizes de batalhas passadas. Seus olhos castanhos emanavam uma urgência que era difícil de ignorar.

— Chamo-me Sir Leonan, e venho das terras além das montanhas distantes. Lá, um dragão assola nossas terras e a realeza prometeu a mão da princesa ao cavaleiro que trouxesse paz novamente. Procuro o Segredo do Moinho Encantado, pois antigas lendas dizem que ele contém o poder de acalmar a mais feroz das feras.

Dona Seraphina, ouvia atentamente, balançando-se devagar em sua cadeira de balanço, perdida em pensamentos. Enquanto isso, preenchia duas canecas com um chá aromático de ervas colhidas no frescor da manhã.

— O Segredo do Moinho Encantado, você diz? — murmurou ela, com uma sobrancelha arqueada. — Esse é um mistério que poucos souberam desvendar, pois não se trata de um objeto ou palavra mágica, mas sim um enigma ancorado nas profundezas do ser.

O cavaleiro ouvia com atenção, percebendo que Dona Seraphina não era uma avó comum, mas sim guardiã de sabedorias antigas. Ele aguardava, esperançoso por uma orientação que lhe desse vantagem na tarefa que tinha pela frente.

— Para desvendar este segredo, terá de enfrentar provas que irão desafiar o mais intrépido dos homens — continuou a avó, com uma voz que agora parecia carregar o peso dos séculos. — Não é força bruta que irá dobrar o coração de uma besta, mas uma virtude que nem todos os cavaleiros possuem.

Sir Leonan inclinou-se para frente, suas mãos fortes sobre a mesa, prontas para aceitar qualquer desafio.

— Estou preparado para aprender o que precisar e enfrentar o que for necessário. Apenas me guie, Dona Seraphina.

A avó sorriu, sabendo que este era um homem de verdadeira coragem. Levantou-se e caminhou até uma das prateleiras mais altas. Entre tesouros empoeirados e frascos de essências, ela retirou um pequeno pergaminho amarelado pelo tempo.

— Este mapa o guiará através de provas espirituais — disse ela, estendendo o mapa até as mãos do cavaleiro. — Vá até a Floresta dos Sussurros, cruze o Vale das Sombras e alcance o Pico da Revelação. Lá, o verdadeiro Segredo se revelará a você.

Com determinação, Sir Leonan estudou o mapa, memorizando os caminhos e rotas que se entrelaçavam como veias pelo vale.

— Partirei ao alvorecer, com a benção da coragem em meu coração — declarou o cavaleiro, já prevendo as dificuldades que teria pela frente.

— E não se esqueça, Sir Leonan — advertiu Dona Seraphina, um lume de travessura dançando por seus olhos — nem sempre a coragem reside na espada, mas sim na compaixão e no coração aberto.

No dia seguinte, ao raiar do sol que tingia o céu de laranja e rosa, o cavaleiro partiu, com o mapa firme em suas mãos e os ensinamentos da sábia avó gravados em sua mente. O moinho de água continuava sua cantiga, como se abençoasse a jornada de coragem que se iniciava.

As crianças da aldeia mais próxima acordaram com a história da avó e do cavaleiro valente, que buscava não apenas a mão de uma princesa, mas o conhecimento que desfazia trevas e trazia luz à alma.

E o moinho? Ah, permanecia lá, testemunhando o fluir das águas e dos tempos, guardando ainda muitos outros segredos e histórias que aguardavam os corações audazes o suficiente para batê-lo dos mistérios. E assim, o vale continuava a ser palco de lendas e de ensinamentos que atravessam gerações, sempre sob o doce olhar de Dona Seraphina, a avó que tecia o invisível com mãos de amor e a sabedoria do coração.

Compartilhar

Deixe um comentário

13 + thirteen =