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O Concerto Misterioso na Biblioteca dos Sonhos

Em uma vila escondida entre as colinas, havia uma biblioteca antiga conhecida como a Morada dos Mil Mundos. Suas paredes eram revestidas com estantes de madeira nobre, abarrotadas de livros de todas as cores e tamanhos, alguns tão antigos que sussurravam histórias em vez de serem lidos. No centro desse reino de palavras e imaginação, repousava um piano de cauda, tão brilhante e preto que refletia as histórias ao seu redor como um lago noturno.

— Por que um piano estaria em uma biblioteca? — perguntava-se com frequência. Mas a resposta só viria para quem o ouvisse tocar.

O mais curioso morador desta vila não era uma pessoa, mas sim um burro chamado Artur. Com uma pelagem cinza mesclada e orelhas compridas que pareciam sempre alertas, Artur não era um burro qualquer. Dotado de uma inteligência surpreendente e um coração maior que o mundo, ele amava passear pela biblioteca, admirando as capas e folhas dos livros, mesmo que não pudesse folheá-los.

Em um dia ensolarado de outono, quando as folhas dançavam nas brisas como fagulhas de fogueira, Artur entrou na biblioteca e percebeu algo diferente. O silêncio que costumava ser preenchido pelo som das páginas viradas agora era interrompido por uma melodia tênue. Curioso, o burro seguiu o som até chegar ao piano de cauda.

— Olá — disse uma voz suave, e Artur levantou os olhos. Ali, em cima do piano, estava um coelho de pelagem branca como chantilly, com olhinhos negros cintilantes e orelhas pontudas que captavam todos os sussurros do lugar.

— Bem-vindo à biblioteca, senhor burro, — cumprimentou o coelho. — Sou o Henrique, o bibliotecário saltitante e pianista nas horas vagas. E você, quem é?

— Eu sou o Artur. — O burro abaixou a cabeça em sinal de respeito. — Nunca te vi por aqui. Como é que um coelho se tornou pianista?

— Ah, é uma longa história. Lá na minha terra, os coelhos têm um grande amor pelas artes. Eu aprendi a tocar ouvindo as pessoas e, com o tempo, desenvolvi meu próprio estilo. Mas me diga, já viu algo estranho acontecendo por aqui?

— Estranho? — Artur franziu a testa.

— Sim, algo como livros se mexendo sem que ninguém os toque, páginas virando sozinhas…

— Não, aqui sempre foi um lugar tranquilo. — Artur olhou ao redor, procurando algo fora do comum.

— Bom, então talvez você possa me ajudar a desvendar um mistério — disse Henrique com um brilho malandro nos olhos.

Nesse instante, uma lufada de vento invadiu o espaço, fazendo páginas de livros próximos se movimentarem em um frenesi.

— Será que é isso que você está falando, Henrique? — perguntou Artur, observando o espetáculo.

— Exatamente! — exclamou o coelho. — Desde que cheguei, percebi que há uma energia mágica aqui. Sabe, Artur, acredito que essa biblioteca esconde segredos além dos livros.

— E como vamos descobrir esses segredos?

— Para isso, precisamos da partitura perdida. Diz a lenda que existe uma música capaz de revelar o verdadeiro encanto deste lugar. E eu suspeito que ela esteja escondida em algum desses livros.

Artur ponderou por um momento e então disse:

— Então vamos encontrar essa partitura perdida, Henrique! Eu posso não saber ler música, mas posso ajudar a procurar!

Assim começou a busca de Artur e Henrique pela partitura perdida. Juntos, revistaram volumes de aventuras épicas, atravessaram atlas encantados e espiaram por entre as páginas de contos de fadas. O sol ia descendo no horizonte, tingindo o céu de tons alaranjados e rosados enquanto a biblioteca se enchia de sombras dançantes.

À medida que o crepúsculo se aproximava, a dupla chegou à seção mais antiga da biblioteca, onde os livros pareciam falar entre si em uma língua há muito esquecida.

— Artur, olhe isto! — chamou Henrique, sorrindo ao apontar para uma estante um tanto reclusa.

Um velho livro encadernado em couro, com
sinetes misteriosos, parecia vibrar com uma melodia silenciosa. Com um gesto cuidadoso, Artur tocou o livro com o focinho, sentindo uma energia pulsante passar por ele.

— Henrique, sinto que é este!

Sem hesitar, o coelho abriu o livro com um pequeno salto e, para sua surpresa, ali estava a partitura, brilhando com notas douradas e letras prateadas. Henrique, com os dedinhos ágeis, começou a tocar as teclas do piano, e as primeiras notas da melodia encheram a biblioteca com uma luz suave. Os livros iniciaram uma dança aérea, as páginas girando como se celebrassem uma festa escondida há séculos.

Artur observava, encantado, enquanto o coelho tocava com maestria. A música era como uma chave que abria portas para mundos escondidos entre as páginas dos livros: dragões, princesas, piratas, e criaturas mágicas começaram a se materializar na biblioteca, participando da celebração.

A música alcançou seu clímax, e o burro e o coelho, envolvidos pelo poder da biblioteca dos sonhos, entenderam que a verdadeira magia não estava só na música ou nos livros. Estava na amizade e curiosidade que os levaram a descobrir os segredos juntos, provando que, mesmo o mais inusitado dos duetos pode criar harmonia em um mundo de maravilhas.

E naquela noite, enquanto as estrelas piscavam lá fora, Artur e Henrique souberam que suas aventuras estavam apenas começando. As melodias e histórias continuariam se entrelaçando, assim como as amizades forjadas naquele lugar mágico onde um burro e um coelho se uniram pela música e pela imaginação.

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