Numa cidadezinha costeira onde as ondas sussurravam segredos do mar, havia uma biblioteca antiga e majestosa que parecia um farol de conhecimentos. Suas paredes estavam repletas dos mais variados livros, desde enciclopédias antigas até histórias de piratas que faziam a imaginação de qualquer um zarpar. A biblioteca era cuidada pelo mais esmerado e inusitado dos bibliotecários: o caranguejo Casimiro.
Casimiro, um caranguejo vermelho e orgulhoso das suas vastas pinças, usava um pequeno óculo na ponta de sua narina, sempre empenhado em manter a ordem e a limpeza nos corredores repletos de sabedoria. Ele passeava entre os estantes, carregando pilhas de livros com um equilíbrio que desafiava a gravidade, e quando lia, suas pinças folheavam as páginas com delicadeza surpreendente.
— Uau! Como você faz isso? — exclamou uma vozinha surpresa que vinha da seção de literatura infantil. Casimiro virou-se para encarar um pequeno rato, cujo pelo castanho brilhava à luz que se filtrava pelas janelas empoeiradas. O rato se chamava Riquinho e tinha olhos curiosos que cintilavam com o desejo de aventura.
— Ah, meu amigo, os mistérios do manejo do papel são antigos como o mar! — respondeu Casimiro com um sorriso ladino. — Mas o que traz um jovem rato como você à minha humilde biblioteca?
— Estou à procura de aventuras e mistérios! — afirmou Riquinho com convicção. — E dizem que este lugar guarda mais histórias do que grãos de areia na praia!
— Verdade seja dita, mas hoje viveremos uma aventura real, Riquinho. Há algo misterioso afoot! — Casimiro baixou a voz, instantaneamente envolvendo Riquinho em uma atmosfera de suspense. — O cofrinho da biblioteca, onde guardamos as moedas para a compra de novos livros, desapareceu!
Riquinho arregalou os olhos e afastou-se de uma pilha de livros ilustrados. Seu coraçãozinho acelerou, como se as páginas de uma história eletrizante virassem dentro dele.
— Um cofrinho desaparecido? Isso é um caso para um detetive, não um rato!
— Talvez, mas quem melhor do que um curioso rato e um caranguejo astuto para solucionar tal enigma? — Casimiro guiou Riquinho até um canto da biblioteca onde um pequeno pedestal de madeira ficava vazio, sem vestígios do cofrinho que ali antes repousava.
— Então, por onde começamos, Casimiro? — perguntou Riquinho, com a pulga da curiosidade dançando em sua orelha.
— Vamos revirar o local em busca de pistas, meu jovem Watson. — Casimiro passou suas pinças sobre as prateleiras, livros e até mesmo sob o tapete persa que acariciava o chão com padrões de oceanos imaginários.
Investigaram cantos e recantos, lugares onde sombras se enrolavam como gatos preguiçosos e poeira dançava como fadas ao vento. Em suas buscas, encontraram um exemplar de O Conde de Monte Cristo com um marca-página esquecido entre suas páginas, mas nada de cofrinho.
— Que tal perguntarmos aos outros frequentadores da biblioteca? Alguém deve ter visto alguma coisa! — sugeriu Riquinho.
— Uma excelente ideia! — aprovou Casimiro. Eles conversaram com madame Borboleta, que estava sempre com a cabeça nas nuvens de poesia; com senhor Coruja, que estudava tratados de filosofia antiga; e com a pequena Joaninha, que por mais que tentasse se concentrar na sua matemática, estava mais interessada nas ilustrações do lindo livro que segurava.
— Nada, Casimiro. Parece que o cofrinho cresceu pernas e saiu andando. — Riquinho arrastou as patas desanimado.
— Ou pinças… — murmurou Casimiro, pensativo. Foi quando o sábio caranguejo percebeu que algo estava diferente na secção de literatura juvenil.
— Riquinho, venha cá! — chamou ele em voz baixa. Naquela seção, havia uma estante que parecia ligeiramente fora do lugar, como se tivesse sido movida recentemente.
Juntos, empurraram a estante com cuidado, revelando uma pequena passagem secreta que se escondia atrás da fina camada de livros.
— Uma passagem secreta! — exclamou Riquinho. — Quem diria que uma biblioteca poderia ser tão emocionante?
— Shhh! Avante, com cautela — sussurrou Casimiro.
A passagem os conduziu por um labirinto de túneis estreitos até chegarem a uma sala oculta, iluminada por uma única lâmpada pendurada do teto. Lá estava ele: o cofrinho! Estava sobre uma pilha de livros antigos, cercado por uma fortaleza de palavras e conhecimento.
— Achamos! — gritou Riquinho, mas Casimiro colocou rapidamente uma pinça sobre os lábios do rato.
— Não está sozinho… — alertou Casimiro.
Escondidos nas sombras, viram um par de olhos brilhantes acompanhados de um espirro delicado. Uma pequena toupeira espiava timidamente de trás de um monte de páginas desgastadas.
— Bem, encontrei este lugar por acaso e pensei que era um bom sítio para guardar minha coleção de histórias de mistério — justificou-se a toupeira corada ao ser descoberta.
Após uma conversa amistosa e esclarecimentos, os três decidiram que o cofrinho deveria retornar ao seu lugar de direito, mas a coleção de mistérios da toupeira teria um cantinho especial na biblioteca.
Assim, Casimiro, Riquinho, e a toupeira chamada Teresa trabalharam juntos, restabelecendo a ordem e inaugurando uma nova seção na biblioteca: O Canto do Mistério, onde todos os pequenos detetives podiam se aventurar por mundos desconhecidos, sempre ao alcance de um livro.
A adição trouxe ainda mais vida ao farol de conhecimento que era a biblioteca, reunindo frequentadores de todas as espécies para desfrutarem das histórias. O mistério do cofrinho desaparecido tornou-se uma história de amizade, colaboração, e o poder que reside nos livros e naqueles que os amam. Casimiro e Riquinho sorriam satisfeitos, sabendo que no meio dos livros, verdadeiras aventuras sempre aguardavam por aqueles que se atreviam a abrir as páginas do desconhecido.