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A Menina, a Cabra e a Biblioteca Mágica

Numa pequena cidade rodeada por montanhas misteriosas e um céu sempre pintado em tons pastel ao amanhecer, vivia uma menina chamada Clara. Clara tinha cabelos da cor do trigo ao sol e olhos grandes e curiosos, que pareciam absorver cada maravilha do mundo ao seu redor. Sua paixão? Histórias. Histórias que a levavam para mundos onde tudo era possível, onde ela poderia ser quem desejasse. A biblioteca da cidade, uma construção antiga com portas de madeira pesada e janelas coloridas, era o seu refúgio.

Numa tarde de outono, Clara decidiu que exploraria a seção mais escondida da biblioteca, onde os livros pareciam murmurar segredos entre si. De bicicleta, cruzou a cidade, sentindo o vento dançar entre seus dedos, e estacionou junto ao grande carvalho que vigiava o estabelecimento.

— Hoje, vou encontrar um livro que ninguém jamais leu — murmurou para si mesma, com um brilho de determinação nos olhos.

A biblioteca estava tranquila, com apenas alguns sussurros a acompanhar o ranger suave das madeiras e o farfalhar de páginas sendo delicadamente viradas. Clara deslizou entre as estantes, até chegar a uma porta estreita, quase escondida atrás de uma tapeçaria que retratava um dragão adormecido sobre pilhas de ouro.

— O que será que tem aqui? — pensou alto, enquanto empurrava a porta com cuidado. O que descobriu do outro lado era algo que nunca poderia ter imaginado. Uma sala pequena, iluminada pela luz suave que trespassava um vitral no teto, mostrando uma cabra rodeada por estrelas.

E lá, no meio da sala, de frente para uma grande estante de livros, estava… uma cabra. Sim, uma cabra, de pelagem branca como a neve e olhos inteligentes, que mastigava serenamente uma página arrancada de um dos livros.

— Oh! — exclamou Clara, surpresa. — O que está fazendo aqui?

— Ah, finalmente alguém encontrou este lugar! — disse a cabra, sem levantar o olhar da sua refeição. Clara arregalou os olhos. A cabra falava!

— Você… você fala?

— E você parece surpresa. Bem, suponho que não veja cabras falantes todos os dias. Meu nome é Luna.

— Clara — respondeu, ainda em choque. — Mas o que está fazendo aqui?

— Guardando segredos, resolvendo enigmas, o usual para uma cabra encantada numa biblioteca. — Luna finalmente levantou o olhar, piscando casualmente.

— Mas por que está comendo esse livro?

— Ah, isso? — Luna riu, uma risada que soava como cascalho sendo suavemente sacudido em um tambor. — Este não é um livro qualquer. É um livro de receitas mágicas. Estou tentando aprender algumas. Quer ajudar?

Clara, hesitante no princípio, logo se deixou levar pela curiosidade e pela fantasia da situação. Junto a Luna, ela começou a explorar os livros da sala secreta, descobrindo textos sobre feitiços antigos, mapas estelares que apontavam para mundos desconhecidos, e histórias que pareciam ganhar vida às suas palavras.

Conforme o sol começava a se pôr, tingindo o céu de laranja e rosa, Clara teve uma ideia.

— Luna, o que acha de levarmos um desses livros para o mundo lá fora? Podemos usar minha bicicleta!

— Uma aventura ao anoitecer? Estou dentro! — exclamou Luna, animada.

Elas escolheram um livro fino, de capa azul-celeste, que prometia ensinar a quem o lesse a linguagem das nuvens. Clara o guardou em sua mochila, e, com alguma dificuldade, montou na bicicleta com Luna equilibrada nas costas.

Asduas partiram para a noite, pedalando pela cidade adormecida, iluminadas apenas pela luz prateada da lua. À medida que avançavam, o livro na mochila pareceu vibrar levemente, como se estivesse ansioso para revelar seus segredos.

— Para onde vamos, Clara? — perguntou Luna, com entusiasmo.

— Vamos até aquela colina, onde podemos ver o céu mais aberto. Acho que lá será o lugar perfeito para aprendermos a linguagem das nuvens — respondeu Clara, apontando na direção de um monte coberto de flores silvestres.

Chegando ao topo, Clara e Luna se sentaram numa manta xadrez que Clara sempre levava consigo em suas aventuras. Com o livro aberto entre elas, começaram a decifrar os símbolos e as palavras mágicas que dançavam pelas páginas. À medida que repetiam os encantamentos suavemente, nuvens começaram a se formar no céu, assumindo formas de animais, castelos e até mesmo rostos sorridentes.

— Olha, Clara, uma coruja! E ali, um dragão! — exclamou Luna, apontando para as imagens nas nuvens em constante transformação.

Clara sentiu uma alegria indescritível ao ver a magia acontecer diante de seus olhos, misturando-se com a brisa noturna e o perfume das flores. Era como se estivessem criando seu próprio conto de fadas, onde tudo era possível.

Enquanto o livro brilhava suavemente, as nuvens sussurravam segredos antigos, histórias de tempos imemoriais e promessas de aventuras por vir. Clara e Luna se sentiram parte de algo maior, conectadas a um mundo de magia que existia além dos limites daquela cidade sonolenta.

E foi assim, entre risadas e suspiros de encantamento, que Clara e Luna passaram a noite, desbravando o desconhecido e abraçando a beleza da amizade inesperada que haviam encontrado naquela biblioteca mágica.

Ao raiar do dia, com o Sol se erguendo no horizonte e tingindo o céu de tons dourados, Clara e Luna encerraram sua aventura, guardando o livro com cuidado na mochila. Sabiam que aquela noite ficaria para sempre marcada em suas memórias, como um capítulo de uma história que continuaria a ser escrita a cada nova página virada.

— Obrigada, Luna. Por me ensinar que a magia está em todos os lugares, basta sabermos onde procurar — disse Clara, sorrindo para sua nova amiga de pelos brancos.

— Eu é que agradeço, Clara. Por me mostrar que a verdadeira aventura está em compartilharmos momentos como este, cheios de magia e cumplicidade.

E assim, com um último olhar para as nuvens que ainda dançavam no céu matinal, Clara e Luna partiram de volta para a cidade, prontas para novas histórias e novas aventuras que os aguardavam no horizonte.

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